O sofrimento de Flávio Dino
por Benedito Buzar
(artigo publicado na edição deste domingo, 26, no O Estado do Maranhão)
Nas eleições proporcionais de 1962, eu, pelo PSP, e o advogado Sálvio
Dino, pelo PDC, fomos eleitos deputados estaduais. Na Assembleia
Legislativa do Estado, nos juntamos a outros parlamentares e formamos
uma bancada de oposição ao governo do Estado.
Do resultado
dessa luta oposicionista veio a inapelável sentença: tivemos o mandato
de deputado cassado, em abril de 1964. Perdemos o direito de representar
o povo maranhense na Assembleia Legislativa, mas a amizade que
construímos nas lutas parlamentares não arrefeceu e jamais passou por
sobressaltos.
Em que pese o tormento político a que nos
obrigamos a viver, em plena mocidade e no raiar da caminhada pública,
consolidamos os laços da amizade e dessa forja fraterna gerou o convite
de Sálvio e Rita para que eu e Solange fossemos padrinhos de batismo de
Flavio, o segundo filho do casal, nascido em São Luís no dia 30 de abril
de 1968.
Na condição de padrinhos, passamos acompanhar os
passos de Flávio na vida privada e pública. Pelo seu desempenho nos
bancos escolares e universitários, sabíamos que ele teria pela frente um
porvir auspicioso e nenhuma dúvida pairava quanto ao seu futuro
profissional.
Com o sentimento de felicidade e alegria, vimos o
afilhado crescer e se impor como líder estudantil, advogado, professor
universitário, juiz federal, secretário-geral do Conselho Nacional de
Justiça, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil,
deputado federal e presidente da Embratur, atividades em que deu provas
de competência, honradez e capacidade de trabalho.
Pois foi
ele, ao qual o destino parecia só reservar coisas promissoras e
positivas, frutos de sua exemplar conduta moral e de seu extraordinário
desempenho intelectual e profissional, que, de modo inesperado e brutal,
viu-se agredido na sua condição de ser humano e pai de família.
Por volta das 8 horas, de terça-feira passada (14 de fevereiro), tomei
conhecimento do falecimento em Brasília do filho de Flávio. A notícia,
terrivelmente chocante foi confirmada por telefone pelo compadre Sálvio
Dino, que se encontrava na cidade de João Lisboa.
O avô, em
prantos e emocionado, deu-me informações sobre o drama que ele e a
família estavam passando, relembrando, ademais, o sofrimento a que foi
submetido, anos atrás, quando perdera a filha, Themis, de 13 anos,
coincidentemente, da mesma idade do neto, Marcelo.
Sob o peso
de forte emoção, fiz, em seguida, uma ligação para Brasília, na
tentativa de falar com Flávio e prestar a minha solidariedade de
padrinho e amigo. Quem atendeu ao telefonema foi a sua prima Heloísa,
que, abalada com o acontecido, disse-me que o afilhado não estava em
condições de ouvir-me, tal o estado de desespero e descontrole em que se
encontrava.
Pela voz embargada de Heloísa soube também que
Marcelo havia passado mal, devido a uma crise de asma, quando realizava
atividade esportiva na escola, sendo levado para o hospital Santa Lúcia,
onde foi internado e veio a falecer, vítima de uma parada cardíaca.
Mais tarde, era o amigo Gastão Vieira, que me prestava novas
informações sobre o desaparecimento prematuro de Marcelo e do quadro que
assistira pessoalmente ao ver Flávio, no velório, completamente
desorientado, fora de si e inconformado com a perda do filho querido.
Toda a população de Brasília não apenas acompanhou o infortúnio da
criança e a desolação do pai, mas também se comoveu diante da maneira
como Marcelo teve a vida arrebatada, pela negligência ou má assistência
de médicos e dos procedimentos inadequados adotados pelo hospital, um
dos mais credenciados da capital do país, que, em pleno século XXI,
deixou um adolescente morrer de asma, numa época em que a ciência e a
medicina caminham juntas e se agigantam na cura e na salvação de milhões
de vidas humanas, graças aos avanços e descobertas científicas e
processos tecnológicos.
Quem mora em Brasília diz que a
comoção que tomou conta da população, por conta do desaparecimento
precoce de Marcelo, só foi vista em dois momentos: no enterro de
Juscelino Kubitscheck e no velório de Tancredo Neves.
Esse
terrível golpe, que alvejou frontalmente Flávio, deu-se no exato momento
em que ele ocupa um cargo público de destaque no plano federal e quando
sua relevância política se espraia no plano estadual, já que se
apresenta como alternativa para embates políticos que vão se travar no
Maranhão, em que sua presença, como nova liderança, impõe-se de maneira
patente e é fato incontestável.
Rogamos a Deus para Flávio
encontrar força suficiente para superar tão implacável provação,
dando-lhe ainda condições para que a sua brilhante trajetória pública
não seja interrompida. Temos absoluta certeza de que Marcelo, de onde se
encontra, ajudará o pai nessa íngreme caminhada.