domingo, 26 de fevereiro de 2012

O sofrimento de Flávio Dino

O sofrimento de Flávio Dino

por Benedito Buzar
(artigo publicado na edição deste domingo, 26, no O Estado do Maranhão)

Nas eleições proporcionais de 1962, eu, pelo PSP, e o advogado Sálvio Dino, pelo PDC, fomos eleitos deputados estaduais. Na Assembleia Legislativa do Estado, nos juntamos a outros parlamentares e formamos uma bancada de oposição ao governo do Estado.

Do resultado dessa luta oposicionista veio a inapelável sentença: tivemos o mandato de deputado cassado, em abril de 1964. Perdemos o direito de representar o povo maranhense na Assembleia Legislativa, mas a amizade que construímos nas lutas parlamentares não arrefeceu e jamais passou por sobressaltos.

Em que pese o tormento político a que nos obrigamos a viver, em plena mocidade e no raiar da caminhada pública, consolidamos os laços da amizade e dessa forja fraterna gerou o convite de Sálvio e Rita para que eu e Solange fossemos padrinhos de batismo de Flavio, o segundo filho do casal, nascido em São Luís no dia 30 de abril de 1968.

Na condição de padrinhos, passamos acompanhar os passos de Flávio na vida privada e pública. Pelo seu desempenho nos bancos escolares e universitários, sabíamos que ele teria pela frente um porvir auspicioso e nenhuma dúvida pairava quanto ao seu futuro profissional.

Com o sentimento de felicidade e alegria, vimos o afilhado crescer e se impor como líder estudantil, advogado, professor universitário, juiz federal, secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, deputado federal e presidente da Embratur, atividades em que deu provas de competência, honradez e capacidade de trabalho.

Pois foi ele, ao qual o destino parecia só reservar coisas promissoras e positivas, frutos de sua exemplar conduta moral e de seu extraordinário desempenho intelectual e profissional, que, de modo inesperado e brutal, viu-se agredido na sua condição de ser humano e pai de família.

Por volta das 8 horas, de terça-feira passada (14 de fevereiro), tomei conhecimento do falecimento em Brasília do filho de Flávio. A notícia, terrivelmente chocante foi confirmada por telefone pelo compadre Sálvio Dino, que se encontrava na cidade de João Lisboa.

O avô, em prantos e emocionado, deu-me informações sobre o drama que ele e a família estavam passando, relembrando, ademais, o sofrimento a que foi submetido, anos atrás, quando perdera a filha, Themis, de 13 anos, coincidentemente, da mesma idade do neto, Marcelo.

Sob o peso de forte emoção, fiz, em seguida, uma ligação para Brasília, na tentativa de falar com Flávio e prestar a minha solidariedade de padrinho e amigo. Quem atendeu ao telefonema foi a sua prima Heloísa, que, abalada com o acontecido, disse-me que o afilhado não estava em condições de ouvir-me, tal o estado de desespero e descontrole em que se encontrava.

Pela voz embargada de Heloísa soube também que Marcelo havia passado mal, devido a uma crise de asma, quando realizava atividade esportiva na escola, sendo levado para o hospital Santa Lúcia, onde foi internado e veio a falecer, vítima de uma parada cardíaca.

Mais tarde, era o amigo Gastão Vieira, que me prestava novas informações sobre o desaparecimento prematuro de Marcelo e do quadro que assistira pessoalmente ao ver Flávio, no velório, completamente desorientado, fora de si e inconformado com a perda do filho querido.

Toda a população de Brasília não apenas acompanhou o infortúnio da criança e a desolação do pai, mas também se comoveu diante da maneira como Marcelo teve a vida arrebatada, pela negligência ou má assistência de médicos e dos procedimentos inadequados adotados pelo hospital, um dos mais credenciados da capital do país, que, em pleno século XXI, deixou um adolescente morrer de asma, numa época em que a ciência e a medicina caminham juntas e se agigantam na cura e na salvação de milhões de vidas humanas, graças aos avanços e descobertas científicas e processos tecnológicos.

Quem mora em Brasília diz que a comoção que tomou conta da população, por conta do desaparecimento precoce de Marcelo, só foi vista em dois momentos: no enterro de Juscelino Kubitscheck e no velório de Tancredo Neves.

Esse terrível golpe, que alvejou frontalmente Flávio, deu-se no exato momento em que ele ocupa um cargo público de destaque no plano federal e quando sua relevância política se espraia no plano estadual, já que se apresenta como alternativa para embates políticos que vão se travar no Maranhão, em que sua presença, como nova liderança, impõe-se de maneira patente e é fato incontestável.

Rogamos a Deus para Flávio encontrar força suficiente para superar tão implacável provação, dando-lhe ainda condições para que a sua brilhante trajetória pública não seja interrompida. Temos absoluta certeza de que Marcelo, de onde se encontra, ajudará o pai nessa íngreme caminhada.

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